A vida nos oferece inúmeras experiências. Como psicoterapeuta, ouço diariamente relatos de pacientes que afirmam terem sido ‘destruídos’, ‘desestruturados’ na infância, em geral, pelos pais (figuras que, diz a lenda, são as pessoas que mais nos amam ao longo da vida).
Após dezoito anos como psicoterapeuta, cada vez mais percebo que ambas as crenças anteriores são mentirosas.
Nada nos destrói. Somos eternos construtores de nós mesmos. Somos nós que criamos as experiências e nós que delegamos aos outros a capacidade de nos desestruturar. Já tive centenas de pacientes ‘depressivos’, ‘suicidas’ que - após algumas sessões de minha insuportável persistência – convenceram-se de que eram eles que mantinham aqueles “fantasmas” vivos em suas vidas presentes.
Acredito que depois da idéia de “deus”, o mais corrosivo dos dogmas seja o “amor da família”. Esta falácia corrompe a certeza das emoções e rebaixa a auto-estima de muitos que, ingenuamente, sofrem por não conseguirem sentir esse amor incondicional (e irracional) e ainda acabam por se culparem de não amar aquelas pessoas que (como tantas outras no mundo) podem ser realmente desprezíveis, mesquinhas, desafetuosas e egoístas.
Portanto, meu caro, se este é o seu caso, busque respirar o seu ar e pare de buscar o respeito, o perdão e a aceitação impossíveis dessas figuras do passado. Assuma a insignificância e a incompetência dessas pessoas e, com prazer, acolha em seu coração o profundo desprezo e desmerecimento que você sente por eles. Respeite a si mesmo em primeiro lugar. Não violente quem você é em nome de uma busca pela aceitação externa a qualquer preço.
Não existirá castigo divino apenas porque você admitiu a verdade. A salvação da sua alma (consciência) está justamente na nobreza de encarar de frente a realidade e parar de mentir para a vida, para você e, se acredita, para deus.
- MARCELO BONACHELA