Clipe Within, Without You - Criado por Marcelo Bonachela

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Contradição






A condução de suas idéias nem sempre é tranqüila. Você se depara com pedras de tropeço durante o caminho. Por vezes, avança distraidamente ... tanto, em tão pouco tempo, que não percebe quão distante posiciona-se de nosso próprio destino. Em alguns momentos, causa-lhe estranheza a condução de suas idéias, chegando a duvidar de sua capacidade, ou mesmo se é você que governa a sua mente.

Em inúmeros instantes de sua existência, desconhece o objeto de afeto que está a sua frente, desconhece também a forma como oferta ou não afeto a algo que, até então era-lhe tão precioso. Você se lembra das coisas que acreditava serem boas e agradáveis e daquilo que julgava ser desagradável e inútil quando era criança? Com certeza, muito de sua opinião mudou e isto é correto, pois a evolução exige, em determinados momentos, que você contradiga as suas antigas afirmações.

A contradição é maléfica apenas quando está a serviço da ilusão, ou seja, quando você insiste em não enxergar a intenção, positiva ou negativa, das pessoas e dos objetos que estão ao seu redor. Esta contradição, advinda da desonestidade de seu juízo em relação às suas percepções, é corrosiva e desconcertante, pois o senso maior de justiça existente em todo ser humano exige, nem que seja apenas por um lapso curto de tempo, a admissão da verdade.

Os momentos de contradição podem ser extremamente fecundos. É possível amadurecer substancialmente e desapegar-se de suas crenças, de opiniões caducas, as quais não mais o conduzem a lugar algum. Admitir a contradição afetiva ou intelectiva é, em princípio, admitir a própria liberdade humana de escolha para envolver-se por aquilo que cala em seu coração.

Esta liberdade possibilita que o afeto seja sempre novo; se você ama uma pessoa há duas décadas, em verdade ama a cada novo dia uma nova pessoa há duas décadas. Não é o amor que dura todo esse tempo, mas sim você que o atualiza diariamente, por isso ele permanece encantador. E nisso não há contradição, há sim discernimento, desejo verdadeiro de entrega diária.

Não há mérito ou fracasso na contradição, há sim a percepção da impermanência dos desejos, da saudável fragilidade de suas convicções. Realmente você perde muito tempo de sua vida buscando manter uma condução única, um afeto único, um ideal único.

É preciso entender que esta unicidade é a representação do seu desejo pueril de descanso, de vitória sobre as angústias. Não é possível determinar o curso das coisas grandiosas, assim como não se pode, na manhã que nasce por si, ordenar ao sol que mude seu curso, não lhe cabe também ordenar a sua alma qual caminho deverá percorrer.

Resta-lhe, graciosamente, conduzir as suas intenções, contraditórias ou não, e permanecer atento ao curso dos sóis que brilham em sua vida.

- MARCELO BONACHELA

sexta-feira, 8 de abril de 2011

JULGAR





Temos em cada instante de nossas vidas, a árdua tarefa de distinguir as coisas e as pessoas, os pensamentos e os sentimentos. No imediato instante da escolha, acreditamos conseguir o melhor posicionamento; julgamos como eficiente a nossa idéia, e , se nos resta alguma dúvida, atribuímos à incerteza da nossa ainda limitada compreensão das coisas, afinal das contas, ‘ninguém nasce sabendo’.

Como pode ser possível a responsabilidade de nossas ações e julgamentos se somos em todo o tempo de vida incompletos? Devemos perceber que esta incompletude está intimamente ligada a uma enorme completude, ou seja, existe em nossa vida um número finitamente gigantesco de certezas.

Nossas inclinações por vezes corrompem a nossa certeza interior. Em muitos, os sentimentos profundos, bem como as tendências da própria alma vão sendo negadas por muito tempo, isso faz com que as pessoas vejam como estranhas algumas emoções que surgem, simplesmente por não serem compatíveis com as convenções ou por não estarem de acordo com aquilo que a própria pessoa racionalmente acredita ser justificável.
Podemos inverter nossa escala de valores e determinar que o número finito de certezas que possuímos é, na maioria das vezes, suficiente para enxergarmos o mundo e resolvermos quais os posicionamentos mais adequados.

Precisamos deixar de lado essa tendência de nos imaginarmos pequenos e insignificantes em relação às coisas, posto que, no tocante às nossas vidas, podemos e devemos ser gigantescos, pois as nossas atenções são as verdadeiras construtoras da realidade que nos cerca.

Necessitamos viver mais o presente, visto que uma vida feita em função do futuro é uma vida inquieta. Devemos projetar o presente no futuro e construir dia a dia este futuro. É apenas a ‘ocupação’ com o presente que justifica a ‘preocupação’ com o futuro.

Somos seres racionais. Possuímos a capacidade consciente de julgar o mundo que nos cerca e a nós mesmos. Devemos exercitar esta excepcional exclusividade humana. Não podemos nos curvar a esta tendência atual de desclarificar o juízo, uma vez que, abdicando da capacidade de julgar, você julga a si mesmo impotente, incapaz para estabelecer o juízo adequado.

Valorize-se, julgue corretamente, pensando e sentindo aquilo que cala em seu coração. Utilize-se das finitas e suficientes certezas existentes em sua vida e julgue. Caso julgue insuficientes as suas certezas, busque mais conhecimento. Vá ao encontro da finita verdade a qual permitirá o seu julgamento. Apenas não permita mais que o outro decida e avalie por você. Desde que esteja disposto a investir sua atenção, você é humanamente capaz de julgar, atribuir valor às coisas e às pessoas. Julgue e seja feliz.

- MARCELO BONACHELA