Por vezes temos sentimentos de impotência frente aos outros, aos nossos sonhos e projetos e sentimentos de desesperança em relação ao nosso futuro como se estivéssemos de mãos amarradas.
Quantas vezes, ao longo de dezoito anos como terapeuta, vi pessoas tristes, chorosas, apáticas, como se fossem merecedoras de tal infortúnio; como se aquele castigo fosse justo. Esta visão de sacrifício demonstra uma auto-estima rebaixada que desencadeia todo o mecanismo depressivo.
Por vezes, uma mudança de foco ajuda a sair da crise. Ao invés da maldição, peço que a pessoa perceba como são naturais esses enfrentamentos. A cada crise – e a vida é farta delas – o nosso ciclo de equilíbrio-perturbação se manifesta. A depressão passa a ser vista com um dos momentos de invenção e superação que a vida nos obriga a efetivar (lembre-se: um dia você foi analfabeto, um dia não soube tomar banho sozinho, um dia não soube comer com garfo e faca...).
A grande dificuldade de estabelecermos uma auto-aceitação encontra-se na ênfase atribuída à opinião dos outros. Pense como você é formado, no fundo, pelos valores e crenças que os outros oferecem. A opinião do mundo exterior traz uma série de comprometimentos em relação aos desejos dos outros. Nossa família, nossos amores e nossos amigos são, primariamente, co-autores de nossas vontades.
Pessoas que entendem as pedras de tropeço como muralhas intransponíveis, desenvolvem um estado depressivo de forças físicas e mentais.
Lembre-se que todo esse mal-estar pode ser um sinalizador de um maravilhoso processo de transformação de valores e atitudes. A epopéia depressiva não passa, na maioria das vezes, de uma resistência em abrir mão de valores e atitudes que não mais são capazes de intermediar suas necessidades existenciais com o mundo.
- MARCELO BONACHELA