A cada dia percebemos o quanto precisamos nos adaptar as necessidades externas: à moral, ao senso estético, às regras econômicas e religiosas... Difícil é saber o limite saudável para esta situação. Sem perceber, muitos passam de gentis e “politicamente corretos” para hipócritas moralistas. Desta passagem ninguém está livre, justamente porque a pressão social é muito grande.
Seja sincero, quantas e quantas vezes você sabe a sua vida está uma merda e, quando perguntado: “Olá, tudo bem?”, você nem respira e responde: “Tá tudo bem, graças a Deus” (você ainda consegue colocar Deus como cúmplice de sua mentira).
Mentira é uma expressão muito ofensiva. Vamos mudá-la para “encenação”. Assim fica bem melhor, não é? Você não é um mentiroso, mas sim apenas uma pessoa que não deve expor a sua miséria existencial e a sua covardia frente às decisões, para não se tornar vulnerável e, assim, permitir que alguns “pisem em você”.
Concordo que devamos ter uma proteção, uma carapaça de proteção contra ameaças. Jung disse que a persona (esta carapaça) é a tentativa de convencer aos outros e a nós mesmos daquilo que os outros pensam que somos e que nós mesmos sabemos que não somos, ou seja, a representação positiva ou negativa é sempre uma dissimulação de nossa verdadeira representação interna.
Agora começamos a perceber que a ‘mentira social’ é, por vezes, benéfica para os outros e para si próprio.
O aspecto positivo reside na condição de lucidez de “mentir” sem “ser mentiroso”, ou seja, como disse o poeta urbano: “Mentir prara si mesmo é sempre a maior mentira”.
Enfim, lembre-se de que você está escolhendo aquele papel, está escolhendo aquela situação e que está escolhendo aquelas pessoas para dissimular, digo, se relacionar. Existem muitas portas para você abrir e infinitas portas para você fechar e começar a ser mais autêntico consigo e com o mundo.
Boa sorte!
- Marcelo Bonachela