Blog com textos do psicólogo junguiano Marcelo Bonachela. Obrigado por sua visita, deixe seu comentário!
Clipe Within, Without You - Criado por Marcelo Bonachela
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Com o nó na garganta
Hoje, 31 de dezembro, véspera do ANo-Novo, resolvi escrever sobre mudanças, e por que às vezes elas são tão difíceis.
Muitas vezes nos sentimos pressionados frente a algumas questões. Vários são os momentos de angústias que experimentamos quando estamos “encurralados”.
O mais incrível é que geralmente tudo não passa de um problema infantil de não nos sentirmos aceitos ou respeitados (lembre-se de quando diziam: “Você não pode brincar, você é muito pequeno” ou “Você é feio; nunca mais vou gostar de você”).
Estas feridas – aparentemente simples – causam grandes cicatrizes. Muitas pessoas mais novas dizem – com orgulho – que nunca apanharam de seus pais. Todos nós sabemos que as palavras (inclusive as de seus pais) são mais pesadas e doloridas que muitos tapas.
Sempre precisamos da aprovação dos outros. Por mais insignificante e angustiante que isto possa ser, temos esta necessidade infantil presente em toda nossa vida adulta.
Manter a “criança feliz” viva dentro de você é lindo. Sentir curiosidade e entusiasmo pelos “brinquedos” da vida adulta é maravilhoso. Mas, ser prisioneiro de suas carências infantis e passar o resto da vida com um discurso ressentido é um ato anti-natural e covarde.
Ao invés de você ficar acomodado em suas desculpas: “Não tenho culpa, fui criado assim”, “Sempre tento, mas o passado fala mais alto” ... assuma a responsabilidade de sua vida e pare de culpar aquelas pessoas que , com certeza, também tiveram uma criação ruim e reproduziram a infelicidade para a geração seguinte, assim como você está prestes a fazer.
A vida é como é, ninguém pode mudá-la. As pessoas são como são, ninguém pode mudá-las, assim como você vai mudar não porque leu este artigo, mas porque queria mudar e só precisava de lago externo para justificar essa mudança.
Aproveite o simbolismo dessa data e proponha-se a mudar.
Aceite-se em suas limitações e a partir da consciência delas, evolua.
Realize mais sonhos.
Seja mais sincero com seus sentimentos.
Viaje.
Ouça mais música.
Leia.
Reserve tempo para as coisas simples.
Busque atividades que lhe fazem sentir-se bem.
Não tente agradar aos outros a qualquer preço.
Renove-se.
FELIZ 2010!
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Boas Festas!
Só fachada
Como terapeuta, passo seis dias por semana em contato com diversas neuroses e psicoses. Entro em contato com o sofrimento destas pessoas e busco – no limite de minhas forças e competências – ajudá-las.
Entretanto, fico impotente quando o paciente é vítima de uma pessoa que sofre deste mal: é pura máscara, hipócrita, sem conteúdo ...
Tenho, ao lado de minha poltrona, uma folha com a seguinte frase : “Todo moralista é imoral”. Sempre que uma paciente começa a enaltecer e glorificar as virtudes angelicais de seu marido (ou pai), afirmando que ele é diferente de todos, que ele não admite a existência do cinza, pego a folha e mostro, sem falar nada.
Após alguns minutos de silêncio, a maioria das pacientes deixa de lado o discurso “casamento feliz” e conta as suas decepções, as traições. A partir daí, elas começam a se revalorizar e a buscar seu próprio norte, percebendo que foram vítimas de um tirano que as subjulgou com falsos valores e falsas palavras.
Algumas, infelizmente, contam mais histórias que comprovam o aspecto semi-divino que o marido possui.
Atendi, há alguns anos, um casal em terapia sexual. Ele tinha perda de ereção quando da penetração e após alguns anos de casamento ela se tornou frígida.
Ela sempre dizia que o que a atraía no marido eram os seus valores: ele era fiel, valorizava a família e era diferente dos outros homens, pois era sempre verdadeiro (tanto quanto uma nota de trinta reais). Ele ia uma vez por semana para a matriz da empresa na qual trabalhava, aonde mantinha um “caso” com uma colega de outra cidade há anos. Além disso, frequentemente se valia de “garotas de programa” e “pegava” (expressão dele) uma menina do escritório.
Acredito que ele passaria em qualquer polígrafo (detector de mentira), pois ele afirmava que amava a esposa e nunca a trairia. Sim, tudo isso não era traição: ele é homem e como ele dizia “Isso é coisa de homem, né, doutor?”
Como dizia Renato Russo, “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”. Ele não se assumiria como “pegador”, pois sua mãe era conservadora e não admitiria uma separação. Acreditava que mulher decente “não precisa dessas coisas”, portanto, não acreditava fazer mal à sua esposa.
Como disse no início, como se libertar, se você nem sabe que está apodrecendo no fundo das masmorras de um fraco que não se assume e não se gosta?
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Lá vem a noiva
O casamento é algo que está em constante mutação devido aos avanços sociais e às conquistas que as mulheres realizaram: os anticoncepcionais orais, o acesso ao mercado de trabalho, o compartilhamento da educação dos filhos com a escola, dentre outras transformações, nos faz repensar o casamento.
Assim como em qualquer outra forma íntima de relação humana, o casamento é depositário de sentimentos contraditórios, egoísmos, preconceitos e servem para que muitos depositem no(a) parceiro(a) todos os seus problemas cotidianos. Tanto isto é verdade que, inconsciente e ingenuamente, muitos acreditam que tudo em sua vida irá se solucionar com a separação.
Muitos colocam o sexo como protagonista do casamento. Embora ele ocupe um lugar fundamental, o sexo não pode ser a única fonte de ligação para uma vida a dois. É fundamental porque, via de regra, o casamento exige a exclusividade erótica e sexual. Assim sendo, por decorrência, você é “obrigado” a se gratificar e a gratificar o(a) seu(ua) parceiro(a). Muitas de minhas pacientes –e alguns pacientes- se queixam desta ‘obrigação’, afirmando não sentirem mais amor ou tesão por seu marido.
Busco chamá-las para a inexorabilidade da obrigação, pois esta obrigação e renascida, desejada e reafirmada –consciente ou inconscientemente- a cada dia que ela se mantém no casamento uma vez que, quando ambos firmaram este CONTRATO afetivo e erótico, estavam dispostos à exclusividade sexual vivida, via de regra, ao menos, uma vez por semana e, já tive pacientes, com menos de quarenta anos de idade, que estavam no casamento há mais de cinco anos sem intimidade sexual. Então, assim, fica fácil perceber porque o sexo, ao longo do tempo, se transforma em foco central de ansiedade num casamento.
Ouço diariamente em meu consultório, o quanto é difícil se desfazer um casamento. Consigo entender o constrangimento social e as dificuldades econômicas que permeiam uma separação, mas, mesmo assim, a pessoa deve redescobrir seus potencias e seus valores e acreditar numa coisa muito importante que muitas mulheres esquecem: você não está sozinha no mundo. Você possui irmãos, pais, tios, primos e amigas que ficariam muito felizes em ajudar alguém que tanto amam. E não adianta você dizer: “Ele está falando isso porque não conhece minha família”. É besteira sua: canso de ouvir esta resistência ridícula à exposição social, mas, quando, vencidas por minha insistência, minhas pacientes ligam para um irmão, uma tia... recebem sim uma bronca por não terem ligado antes e por terem duvidado de seu amor.
Mas vamos continuar este texto falando da continuação do casamento e como podemos superar os problemas referentes ao sexo matrimonial que, para muitos, perdeu o caráter pecaminoso de algumas gerações anteriores. Mas isso não é suficiente ainda, pois ainda existe muito pouco diálogo erótico e sexual dentro do casamento. Este diálogo verdadeiro é caricaturado em forma de conversas que produzem novos jogos erótico, danças exóticas... que, apenas aumentam a ansiedade sexual do casal que vive em busca do ‘el dorado’ sexual, tentando o orgasmo simultâneo, artifícios de desempenho que, ao longo do tempo, levam a transtornos no prazer e à disfunções.
Cada vez mais a quantidade de revistas e sites especializados numa “normatização” do sexo, acaba gerando mais dúvidas sobre a própria capacidade do casal em desempenhar tão acrobaticamnte todas as ‘cento e oitenta e cinco dicas para ser feliz no casamento’. Puxa vida, precisaríamos viver, no mínino, cento e cinqüenta anos para realizar ao menos metade destas listas dogmáticas e preconceituosas. Fora isso, qualquer relacionamento é, geralmente, recheado de insegurança, ciúmes e medo de perder o atrativo físico.
Percebo que, hoje em dia, o trabalho do terapeuta consiste em dissolver a culpa e a vergonha sexual trazidas por décadas e, ao mesmo tempo, atuas como filtro e moderador filtro da ansiedade experimentada pelas estatísticas quanto ao número de coitos, posições, número de orgasmos...
Converso com meus pacientes (ambos os sexos) que o sexo não se limita ao coito. O sexo faz parte das vinte e quatro horas de um casal. O “bom dia” olhando nos olhos, o “passar o açúcar” gentilmente, o “como foi seu dia?” honestamente perguntado e atentamente escutado, o “elogio a qualquer coisa, qualquer ação” que o outro tenha realizado e, principalmente, o humor, são os grandes mantenedores de um projeto matrimonial com qualidade erótica e sexual, apesar das dificuldades e dos desencontros inerentes à própria vida.
Obs: este texto deveria ter sido publicado no dia 06/12, o que não ocorreu por problemas técnicos.
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