Clipe Within, Without You - Criado por Marcelo Bonachela

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Lá vem a noiva




O casamento é algo que está em constante mutação devido aos avanços sociais e às conquistas que as mulheres realizaram: os anticoncepcionais orais, o acesso ao mercado de trabalho, o compartilhamento da educação dos filhos com a escola, dentre outras transformações, nos faz repensar o casamento.

Assim como em qualquer outra forma íntima de relação humana, o casamento é depositário de sentimentos contraditórios, egoísmos, preconceitos e servem para que muitos depositem no(a) parceiro(a) todos os seus problemas cotidianos. Tanto isto é verdade que, inconsciente e ingenuamente, muitos acreditam que tudo em sua vida irá se solucionar com a separação.

Muitos colocam o sexo como protagonista do casamento. Embora ele ocupe um lugar fundamental, o sexo não pode ser a única fonte de ligação para uma vida a dois. É fundamental porque, via de regra, o casamento exige a exclusividade erótica e sexual. Assim sendo, por decorrência, você é “obrigado” a se gratificar e a gratificar o(a) seu(ua) parceiro(a). Muitas de minhas pacientes –e alguns pacientes- se queixam desta ‘obrigação’, afirmando não sentirem mais amor ou tesão por seu marido.

Busco chamá-las para a inexorabilidade da obrigação, pois esta obrigação e renascida, desejada e reafirmada –consciente ou inconscientemente- a cada dia que ela se mantém no casamento uma vez que, quando ambos firmaram este CONTRATO afetivo e erótico, estavam dispostos à exclusividade sexual vivida, via de regra, ao menos, uma vez por semana e, já tive pacientes, com menos de quarenta anos de idade, que estavam no casamento há mais de cinco anos sem intimidade sexual. Então, assim, fica fácil perceber porque o sexo, ao longo do tempo, se transforma em foco central de ansiedade num casamento.

Ouço diariamente em meu consultório, o quanto é difícil se desfazer um casamento. Consigo entender o constrangimento social e as dificuldades econômicas que permeiam uma separação, mas, mesmo assim, a pessoa deve redescobrir seus potencias e seus valores e acreditar numa coisa muito importante que muitas mulheres esquecem: você não está sozinha no mundo. Você possui irmãos, pais, tios, primos e amigas que ficariam muito felizes em ajudar alguém que tanto amam. E não adianta você dizer: “Ele está falando isso porque não conhece minha família”. É besteira sua: canso de ouvir esta resistência ridícula à exposição social, mas, quando, vencidas por minha insistência, minhas pacientes ligam para um irmão, uma tia... recebem sim uma bronca por não terem ligado antes e por terem duvidado de seu amor.

Mas vamos continuar este texto falando da continuação do casamento e como podemos superar os problemas referentes ao sexo matrimonial que, para muitos, perdeu o caráter pecaminoso de algumas gerações anteriores. Mas isso não é suficiente ainda, pois ainda existe muito pouco diálogo erótico e sexual dentro do casamento. Este diálogo verdadeiro é caricaturado em forma de conversas que produzem novos jogos erótico, danças exóticas... que, apenas aumentam a ansiedade sexual do casal que vive em busca do ‘el dorado’ sexual, tentando o orgasmo simultâneo, artifícios de desempenho que, ao longo do tempo, levam a transtornos no prazer e à disfunções.

Cada vez mais a quantidade de revistas e sites especializados numa “normatização” do sexo, acaba gerando mais dúvidas sobre a própria capacidade do casal em desempenhar tão acrobaticamnte todas as ‘cento e oitenta e cinco dicas para ser feliz no casamento’. Puxa vida, precisaríamos viver, no mínino, cento e cinqüenta anos para realizar ao menos metade destas listas dogmáticas e preconceituosas. Fora isso, qualquer relacionamento é, geralmente, recheado de insegurança, ciúmes e medo de perder o atrativo físico.

Percebo que, hoje em dia, o trabalho do terapeuta consiste em dissolver a culpa e a vergonha sexual trazidas por décadas e, ao mesmo tempo, atuas como filtro e moderador filtro da ansiedade experimentada pelas estatísticas quanto ao número de coitos, posições, número de orgasmos...

Converso com meus pacientes (ambos os sexos) que o sexo não se limita ao coito. O sexo faz parte das vinte e quatro horas de um casal. O “bom dia” olhando nos olhos, o “passar o açúcar” gentilmente, o “como foi seu dia?” honestamente perguntado e atentamente escutado, o “elogio a qualquer coisa, qualquer ação” que o outro tenha realizado e, principalmente, o humor, são os grandes mantenedores de um projeto matrimonial com qualidade erótica e sexual, apesar das dificuldades e dos desencontros inerentes à própria vida.


Obs: este texto deveria ter sido publicado no dia 06/12, o que não ocorreu por problemas técnicos.