A condução de suas idéias nem sempre é tranqüila. Você se depara com pedras de tropeço durante o caminho. Por vezes, avança distraidamente ... tanto, em tão pouco tempo, que não percebe quão distante posiciona-se de nosso próprio destino. Em alguns momentos, causa-lhe estranheza a condução de suas idéias, chegando a duvidar de sua capacidade, ou mesmo se é você que governa a sua mente.
Em inúmeros instantes de sua existência, desconhece o objeto de afeto que está a sua frente, desconhece também a forma como oferta ou não afeto a algo que, até então era-lhe tão precioso. Você se lembra das coisas que acreditava serem boas e agradáveis e daquilo que julgava ser desagradável e inútil quando era criança? Com certeza, muito de sua opinião mudou e isto é correto, pois a evolução exige, em determinados momentos, que você contradiga as suas antigas afirmações.
A contradição é maléfica apenas quando está a serviço da ilusão, ou seja, quando você insiste em não enxergar a intenção, positiva ou negativa, das pessoas e dos objetos que estão ao seu redor. Esta contradição, advinda da desonestidade de seu juízo em relação às suas percepções, é corrosiva e desconcertante, pois o senso maior de justiça existente em todo ser humano exige, nem que seja apenas por um lapso curto de tempo, a admissão da verdade.
Os momentos de contradição podem ser extremamente fecundos. É possível amadurecer substancialmente e desapegar-se de suas crenças, de opiniões caducas, as quais não mais o conduzem a lugar algum. Admitir a contradição afetiva ou intelectiva é, em princípio, admitir a própria liberdade humana de escolha para envolver-se por aquilo que cala em seu coração.
Esta liberdade possibilita que o afeto seja sempre novo; se você ama uma pessoa há duas décadas, em verdade ama a cada novo dia uma nova pessoa há duas décadas. Não é o amor que dura todo esse tempo, mas sim você que o atualiza diariamente, por isso ele permanece encantador. E nisso não há contradição, há sim discernimento, desejo verdadeiro de entrega diária.
Não há mérito ou fracasso na contradição, há sim a percepção da impermanência dos desejos, da saudável fragilidade de suas convicções. Realmente você perde muito tempo de sua vida buscando manter uma condução única, um afeto único, um ideal único.
É preciso entender que esta unicidade é a representação do seu desejo pueril de descanso, de vitória sobre as angústias. Não é possível determinar o curso das coisas grandiosas, assim como não se pode, na manhã que nasce por si, ordenar ao sol que mude seu curso, não lhe cabe também ordenar a sua alma qual caminho deverá percorrer.
Resta-lhe, graciosamente, conduzir as suas intenções, contraditórias ou não, e permanecer atento ao curso dos sóis que brilham em sua vida.
- MARCELO BONACHELA