Clipe Within, Without You - Criado por Marcelo Bonachela

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Arco-íris


A vida é representada por inúmeras sensações. Muitas delas repulsivas e tantas outras exuberantes, entretanto, nenhuma se iguala ao Arco-íris.
A beleza, o esplendor da efemeridade talvez seja o auge do exagero que, paradoxalmente, faz perpetuar algo tão suave. Suas cores são harmoniosamente acomodadas para nos maravilharmos.
Seus gestos são delicados e intensos. É impossível não perceber seus movimentos e inimaginável não sentir seu  toque, uma vez que seu toque é sentido pela alma.
A pergunta angustiante é: O que fazer quando nos resta apenas o lindo fundo azul da tela? O que fazer quando a suavidade das nuvens não aplaca a saudade das vibrantes cores? Ficamos, em vão, buscando simulacros em cristais mas, nem o mais puro vidro traz o alívio que desejamos.
E por sinal, qual será o desejo do Arco-íris? Acredito que sua intenção seja de levar ao coração dos céticos e materialistas a dúvida, posto que, diante desta senda heptagonal, resta apenas sentir que o milagre é corriqueiro e que Deus é perfeito.

Arco-íris, sua beleza é vista em minha imaginação e em meu coração  mesmo durante a gélida e escura madrugada. Seus gestos são a encarnação de todas as divindades e, sua ausência apenas nutre a cada dia a esperança de, afortunadamente, olhar para o céu e contemplá-lo. 
E, por fim, o seu desejo, com certeza, nunca entenderei.




sexta-feira, 21 de junho de 2013

Organizando os textos do meu blog, encontrei este que se adapta à proposta absurda da "Cura Gay". 



Em uma aldeia, vivia Lekh, um jovem gigantesco, solitário, digno, que ganhava a vida como caçador. Às vezes, Lekh ficava dominado por uma raiva silenciosa. Nestas ocasiões, fixava os olhos nos pássaros colocados nas gaiolas, resmungando alguma coisa para si mesmo. Finalmente, depois de um demorado exame, escolhia o pássaro mais forte, prendia-o ao seu pulso, e preparava tintas de diferentes cores, que misturava com os componentes mais variados. Quando as cores o satisfaziam, Lekh virava o pássaro e começava a pintar suas asas, sua cabeça e seu peito, com tons de arco-íris, até que se tornasse mais saliente e vivo do que um buquê de flores do campo.
Depois, ia até a parte mais fechada da floresta. Quando chegava a esse ponto, Lekh retirava o pássaro e segurava-o em sua mão, a comprimi-lo levemente. O pássaro começava a chilrear e atraía um bando da mesma espécie que voava nervosamente sobre nossas cabeças. O prisioneiro, ao ouvi-los, voltava-se para eles, gritando mais alto, enquanto seu coração, trancado num peito recentemente pintado, batia violentamente.
Quando um número suficiente de pássaros se reunia, Lekh libertava o prisioneiro. O pássaro levantava vôo, feliz e livre, um ponto de arco-íris num fundo de nuvens, e depois mergulhava no bando que o esperava. Durante um instante, os pássaros ficavam confusos. O pássaro pintado voava de um extremo ao outro do bando, em vão tentando convencer os da sua espécie que era um deles. Mas, fascinados por suas cores brilhantes, eles voavam à sua volta, não convencidos. O pássaro pintado era empurrado para um ponto cada vez mais distante do bando, embora tentasse desesperadamente entrar nas suas fileiras. Logo depois, um pássaro depois do outro atacava-o violentamente. Em muito pouco tempo, a forma de muitas cores perdia seu lugar no céu e caia no chão. Esses incidentes ocorriam muitas vezes. Quando depois encontrava os pássaros pintados, estes quase sempre estavam mortos. Lekh examinava atentamente o numero de bicadas que os pássaros pintados tinham recebido. O sangue escorria de suas penas pintadas, diluindo a tinta e sujando as mãos de Lekh.

O Pássaro Pintado é o símbolo perfeito do outro, do estranho, do Bode expiatório: se o Outro é diferente dos membros do rebanho, é expulso do grupo e destruído; se é como eles, o homem intervém e faz com que pareça diferente, de forma que possa ser expulso do grupo e destruído. Assim como Lekh pinta seu pássaro, os psiquiatras e os psicoterapeutas tiram a cor de seus pacientes, e a sociedade, como um todo, mancha os seus cidadãos. Esta é a estratégia maior de discriminação e formação de bode expiatório. O homem busca, cria e atribui diferenças, a fim de que possa alienar o outro. 
Ao eliminar o Outro, o Homem Justo se engrandece e exprime sua cólera frustrada de uma forma aprovada por seus semelhantes. Para o Homem Justo -o animal do rebanho- a segurança reside na semelhança. Por isso o conformismo é bom e a divergência é má.

Quem quer que valorize a liberdade individual, a diversidade humana e o respeito por pessoas não pode deixar de ficar consternado diante desse espetáculo. Para quem acredita que o Homem Justo (o psiquiatra, a família, a imprensa...) deve ser um protetor do indivíduo, mesmo quando este está em conflito com a sociedade, torna-se mais consternador ainda que, em pleno século 21, pintar pássaros tenha se tornado uma atividade aceita.

Jerzy Kosinski (Adaptado)