Os vínculos que criamos ao longo da vida são extremamente diferenciados entre si em relação aos interesses de cada fase, mas, ao mesmo tempo, são comuns num ponto: a maioria das pessoas sente uma grande dificuldade de se desfazer corretamente destas relações.
Quantas pessoas retardam seu desenvolvimento existencial e adiam conquistas por, justamente, se sentirem traindo aquelas pessoas que tanto apoiaram seus sonhos (em especial, a família). Quando atendo mães que chantageiam seus filhos dizendo que estão traindo a família (aqueles que sempre estiveram ao seu lado) por causa de um amor ou por querer liberdade; lembro a elas que também traíram suas mães, buscando constituir o seu próprio núcleo familiar). Obiviamente elas me respondem: “Foi diferente. Naquele tempo blá, blá, blá”.
Assim como tudo que existe material e temporalmente, as relações tendem a geração e à extinção ou, como querem os ambientalistas, a ressignificação (também conhecido como: Tudo se transforma). Manter-se fiel aos relacionamentos de longo tempo é tão insano quanto esperar que uma montanha não se desgaste ou que uma árvore não se putrefe.
Não estou negando a permanência de grandes encontros. Você pode viver por cinqüenta anos um grande amor, você pode conviver com sua família por toda a vida. A questão é saber que você muda e todos dentro da relação mudam e as corrosões afetivas são inerentes ao tempo. Podemos sim, perceber que novas necessidades e desejos surgem dentro de uma “velha história” familiar, de amizade ou de amor. A lucidez destas transformações é, ao meu ver, o único modo de escapar do “Feitiço do Tempo”.
Todos nós estamos sujeitos ás mesmas leis e assim também os nossos interesses, o nosso conhecimento e o nosso vasto mundo afetivo. Literalmente, somos inúmeros afetos e infinitos interesses ao longo da vida. Manter-se fiel é, na maioria dos casos, desumano e demonstra covardia para ir ao encontro de novos sabores e para compreender que tudo perece, tudo se renova ou, muitas vezes, algo se origina.
E é no nascimento de novas inclinações que reside a beleza do desprendimento que a vida nos oferece. Não seja tolo permanecendo fiel a situações ou pessoas que tiveram seu tempo. Não deprecie o surgimento de novos encontros, novas tendências e novas consciências em sua mente. Viva felizmente os novos encontros!
Muito bom o seu texto, parabéns! "Não seja tolo permanecendo fiel a situações ou pessoas que tiveram seu tempo." Isso, às vezes - ou a maioria das vezes - requer um aprendizado tão longo que as pessoas acabam "fechando os olhos" para as oportunidades que surgem por estarem presos a situações (e pessoas) passadas.
ResponderExcluir"Nem era, nem será, porque é agora"... abs!
Adorei! Texto maravilhoso!
ResponderExcluirAbraços