Clipe Within, Without You - Criado por Marcelo Bonachela

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O leão fantasma - A angústia e as dificuldades sexuais





Temos a cada dia uma enormidade de desejos e influências que povoam a nossa mente e as nossas vontades. Geralmente o conflito entre desejar algo e não poder concretizá-Io ou consegui-Io produz um sinal de alerta chamado ansiedade ou angústia.

Muitas vezes, mesmo quando o perigo foi embora nós continuamos com o sinal de alerta ativado. Quem já foi assaltado ou sofreu uma batida de carro sabe muito bem disso. Ao menor sinal de semelhança do trauma, o corpo e a psique disparam um alerta de revivência do perigo. Vamos supor que você tenha ido ao zoológico e tenha corrido risco de morte por ter atravessado uma porta desavisadamente e quase fora devorado por um leão. Muito tempo depois de ter tido contato com o leão você poderá ter ataques de angústia. A sirene continua funcionando fora de tempo, não tem nada que ver com a situação atual. Quer dizer, não há leão, não há perigo evidente, e você sente angústia, como se o perigo estivesse ali, à sua frente.

Assim se dá mais da metade das disfunções sexuais por causa psicológica. Os sintomas mais comuns das crises de angústia ou ansiedade são as palpitações, as sufocações, os espasmos no abdome, as erupções na pele, os desmaios ou vertigens... Perceba o sofrimento e o desespero que este estado mental traz ao corpo e a psique, simulando uma enfermidade cardíaca, asma, ataques de apendicite, cólicas renais, urticárias graves ou psoríase e epilepsias ou enfermidades cerebrais. Toda esta experiência dolorosa leva, pouco a pouco ao estresse.

Estresse significa tensão, esforço. Uma pessoa submetida a uma tensão que exceda o nível tolerável tem seus sistemas defensivos rompidos. No campo da sexualidade uma coisa interessante é que as disfunções geralmente –por exemplo, os distúrbios da ejaculação e da ereção- não aparecem imediatamente após os problemas psíquicos. Só meses ou anos depois as disfunções aparecem. Por isso que, em atendimento psicoterápico, perguntamos como foram as primeiras experiências eróticas e sexuais para podermos mapear melhor a causa do distúrbio.

Tive um paciente no ano passado que sofria de ejaculação precoce e de uma crescente apatia erótica. Ele era casado há seis anos e não conseguia ter relações satisfatórias com a esposa há, pelo menos, quatro anos. Quando comecei a perguntar das parceiras anteriores ele não entendeu e, até mesmo, se irritou, achando que eu estivesse me desviando do problema. Como eu sou muito chato e persistente, insiste e descobri que a sua primeira namorada (com que namorou por cerca de doze meses) insistia que não tinha prazer nas relações sexuais com ele e que o seu ex-namorado, além de ter uma ‘pegada’ bem melhor, tinha um pênis maior e mais viril.

Meu paciente achava que estas “humilhações” haviam ficado no passado pois, desde então teve outras parceiras e sempre se sentiu ‘firme’. Entretanto, a sua esposa –há aproximadamente quatro anos- começou a questionar o casamento, a rotina e, obviamente, as relações sexuais, afirmando que ele não tinha mais a “mesma pegada” de quando namoravam. Não preciso continuar o detalhamento para que você perceba as semelhanças e as revivências neuróticas as quais ele estava se entregando. A elucidação de tais pontos e alguns exercícios de reaproximação erótica do casal foram suficientes pois, felizmente, eram ambos apaixonados.